quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

La Bella Confusione

   Bloqueio. Federico Fellini foi um cineasta italiano do pós-neorealismo que ganhou 4 Óscares de Melhor Filme Estrangeiro e uma Palma de Ouro em Cannes. Começou por adaptar uma história do conterrâneo Michelangelo AntonioniO Sheik Branco, daí passando para a grande onda de sucesso La Strada - Notti di Cabiria, que passou por Il Bidone e I Vitelloni. Este sucesso ficou a dever-se muito à companheira vitalícia de Fellini, a actriz semi-Chapliniana Giulietta Masina.

                         

   A primeira fase da carreira do italiano acabou com La Dolce Vita, filme vencedor do grande festival da Côte D'Azur. 3 horas de fama, de orgias, de Marcello Mastroianni, de alienação e de banhos em Trevi tornaram Fellini num 'pecador público'.

   Não sou grande apreciador de Fellini. Nunca percebi todo o amor que há em redor de cada filme que este tenha feito com a Masina. Reconheço o seu interesse, a sua capacidade criativa, mas no conjunto da sua obra nunca foi daqueles que me conseguem cativar a cada momento, a cada filme. Mas realizou um dos meus filmes favoritos de sempre. 8 1/2 é um dos meus filmes favoritos de sempre e a razão de ser desta pequena nota acerca do cineasta. Novamente com o belíssimo Marcello.

                                           

  
Fazer um filme grandioso, como é La Dolce Vita, pode esgotar qualquer um. Espantoso é saber que a Magnum Opus de um cineasta como Federico Fellini parte deste esgotamento. Depois do período mais neorealista dos anos 50, este senhor descobriu o trabalho de Carl Jung (um dos protagonistas do bom filme de 2011 A Dangerous Method).

                                                     

  Pegando nos estudos de Jung e no seu próprio bloqueio criativo, Fellini dirigiu, então, o imensamente autobiográfico 8 1/2, que conta a história de um cineasta, também ele, curiosamente, em bloqueio criativo. Concentrado no seu novo filme de ficção-científica vai perdendo a noção daquilo em que está a trabalhar quando é perseguido por sonhos, memórias ou fantasias que se unem à realidade, acabando com o interesse artísitico e familiar do cineasta.

  Ainda hoje nem sei bem o que 8 1/2 é. Para além, claro, de ser do mais belo cinema que já vi. Não é só a beleza que me leva a admirar este filme acima de tantos outros. Admiro o Fellini que o construiu por ter conseguido ultrapassar um dos seus momentos críticos de forma tão original como dirigindo esta rambóia barroca. Pudéssemos todos criar a partir dos desmonoramentos que encaramos...

   Depois deste filme, Federiquito pegou de novo na sua musa Masina, continuou a filmar de forma autobiográfica os sonhos que fazia questão de apontar no seu pequeno caderno de cabeceira e, na minha apreciação, nunca voltou ao nível que encontrou com o segundo filme em que dirigiu Mastroianni. Por muito que eu não seja um profundo amante da obra do Maestro ele fez esta bela confusão. Deixa marca.

                                               

         
                                                               Miguel Ferreira