domingo, 29 de janeiro de 2012

Bitches Brew - Miles Davis

O espírito vanguardista de improviso jazzístico de Bitches Brew fez com que este fosse um dos mais (senão o mais) conceituados álbuns de jazz fusion. O seu espírito revolucionário e experimentalista (tendo em conta que estávamos em 1970) deu origem a uma recepção muito heterógenea, mas a sua inegável qualidade superava qualquer tipo de crítica. Davis conseguiu com este álbum redireccionar o rumo do jazz moderno! (Facto pouco relevante, uma vez que ele era só , nas suas palavras, o "senhor que tinha mudado a história da música 5 vezes...")

"Miles Runs The Voodoo Down" é provavelmente a minha preferida do álbum. O baixo segura a música quase sempre em ostinato, enquanto que ouvimos uma multiplicidade de improvisos rítmicos, de piano, guitarra, saxofone, clarinete  e, claro, trompete. 
Uma maravilhosa viagem de catorze minutos pelos confins do jazz avant-garde!

Miles Davis - trompete;
Wayne Shorter - saxofone soprano; 
Bennie Maupin - clarinete baixo; 
Joe Zawinul & Chick Corea - piano eléctrico;
John McLaughlin - guitarra eléctrica; 
Dave Holland & Harvey Brooks - baixo;  
Don Alias & Jack deJohnette - bateria; 
Juma Santos - congas.


Raquel Pimpão

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Sonho da Luz, O Sol do Marmeleiro

  Victor Erice é um cineasta espanhol nascido em 1940. Estudou direito, ciências políticas e economia. Sem esses estudos teria sido difícil manter uma vida estável durante 70 anos. Apesar de ter feito crítica de cinema e de ter estudado o assunto realizou apenas 3 longas-metragens na sua longa carreira. Se me perguntassem diria que são três das maiores obras-primas do cinema ibérico.
 

    Espiritu de la Colmena e El Sur são dois filmes pessoais, contemplativos e profundamente emocionais a cada instante. Marcantes pela forma como são filmados e pela cor da sua fotografia, foram trabalhos que deram trabalhos a Erice. O primeiro, que passou na censura sem ser notado, acabou por quase boicotar uma carreira que se adivinhava produtiva e brilhante. Francisco Franco, que se podia ter deixado levar por uma tão bela peça de cinema, preferiu dizer-lhe Não (João César Monteiro disse o mesmo ao público português no fim da Branca de Neve, e Portugal também quase lhe boicotou a obra). El Sur e os seus problemas de financiamento resultaram em dois terços de um livro filmado. Erice com a sua capacidade altamente entusiasmante, conseguiu fazer de um filme incompleto um filme do mais completo possível.
 

    1973, 1983, 1992: El Sol del Membrillo, acaba por ser, na minha humilde cinéfila opinião o maior feito de Erice. Chamado de inclassificável, mistura a ficção ao documentário e transpõe na tela o verdadeiro processo criativo de um quadro do pintor espanhol Antonio López García. A história passa-se em Madrid, 1990. García plantou, há anos, no seu quintal, um marmeleiro. Agora decide pintá-lo, quando os marmelos começam a ficar maduros. Mais contemplativo que nunca, é um filme que faria um óptimo dueto com Ou Git Votre Sourire Enfoui ou Ne Change Rien de Pedro Costa. Tal como os filmes do mestre português, El Sol é do mais duro possível e, posso afirmar, do mais recompensador.


    Depois de umas quantas curtas, o basco realizou uma nova, para Guimarães, desde ontem capital europeia da cultura. Há uns meses, quando andava a fazer casting, pediu uma mulher, com mais de 70 anos, que já tivesse trabalhado na indústria têxtil e que falasse polaco. Capta a atenção.

                                                                Miguel Ferreira

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sr. Computador

Não sou particular fã de hard bop, nem do seu habitual espírito frenético, mas este tema em especial está certamente na minha lista de standards preferidos. Aqui têm "Mr. PC" do álbum Giant Steps de John Coltrane, acompanhado nesta gravação por McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (contrabaixo) e Elvin Jones (bateria), o quarteto habitual do saxofonista.



(Aconselho também a versão do trio do Benny Green, que está bem à altura! : http://www.youtube.com/watch?v=I6u6pTnP56w)


Raquel Pimpão

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Das Fontainhas ao Casal da Boba

  Juventude em Marcha é a provável conclusão das Cartas das Fontainhas (trilogia editada pela Criterion Collection) de Pedro Costa, que começaram na Casa de Lava (não incluído na edição) ou de forma mais identificável em Ossos.


  Vanda Duarte, actriz (?) de Ossos, pediu a Costa para a filmar com "menos cinema", o que deu origem a No Quarto da Vanda. Depois disso surgiu Ventura, habitante intrigante das Fontainhas que Costa abordou; o pai de todos, com quem filmou Juventude em Marcha.


  Esta evolução cinematográfica passou a correr pela história do Bairro das Fontainhas, que entretanto foi demolido. Os seus habitantes, que incluíam Vanda Duarte e Ventura, foram realojados no Bairro do Casal da Boba, o que pode ser verificado no vídeo abaixo apresentado, parte integrante da odisseia Juventude em Marcha. As paredes brancas, que deram origem a confusão da parte dos novos habitantes (o que levou a frases como casa cheia de aranhas) não são para esta gente equiparáveis às paredes que tinham formado nas suas antigas casas.

  A saudade da família é muita (e Clotilde, terá voltado para Ventura?) e os quase-actores, estas caras feitas para serem captadas pela câmara digital de Costa, não querem, provavelmente pela tristeza e pela revolta, mais cinema na Boba.



  Em 2012 não haverá qualquer produção de cinema português. Palavras de Catarina Martins, do Bloco de Esquerda. Não é que Pedro Costa, que optou por criar o seu próprio cinema, tenha de fazer parte desta citação, que tem muitas razões para ser acreditada, mas sem Fontainhas, para onde vai o cinema deste autor, cuja obra quase se tinha vindo a construir por si própria até agora? Reconciliar-se com a Boba? Para onde vamos nós, Portugal, a nível cinematográfico? Em Marcha!



                                               Juventude em Marcha (é um dos mais belos filmes do Mundo).


                                                                                                  Miguel Ferreira
Tendo em conta o nome do nosso blog, achei que seria pertinente escolher um tango como primeiro post musical. Aqui partilho esta magnífica gravação de "Invierno Porteño" do compositor argentino Astor Piazzolla, acompanhado por Pablo Ziegler (piano) , Fernando Suarez Paz (violino), Oscar Lopez Ruiz (guitarra) e Hector Console (contrabaixo).


Raquel Pimpão

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Devil's Nipples, Satan's Tango


  Sátántangó, chef d'oeuvre de 7 horas realizada por Béla Tarr, lançada em 1994, é o ponto de partida para a criação deste blog. O Tango, que o título húngaro refere, sugere uma abordagem a artes que não exclusivamente o cinema. A entrada em 2012 ajudou na escolha do nome para o sítio; 12 são os movimentos do Tango (it follows the tango scheme of going six moves forward, then six back ).

  A música, que tanta importância terá neste blog, é em Sátántangó criação de Mihály Víg, colaborador de Tarr de
Kárhozat até ao último trabalho do autor, A torinói ló. Tarr decidiu parar por considerar nada mais ter a dizer, por achar que nada novo pode oferecer através da sua expressão criativa. Por esse e por outros motivos, 2012 talvez não seja um ano tão rico, económica ou artisticamente.

  Em Portugal a cultura perde a toda a força os apoios a que tinha direito. Nem por isso as esperanças para os avanços artísticos portugueses (já na economia talvez não haja tão talentosos artistas) são menores.

  Musicalmente podemos muito provavelmente contar com novos trabalhos de B Fachada, que parece agora, inexplicavelmente, dividir tantas opiniões e com o quase-certo novo álbum de Wraygunn. A nível internacional teremos nomes sonantes como o  do duo francês Air, que lança o álbum Le Voyage Dans La Lune, tão inspirado por Georges Méliès e pelo seu filme de ficção-científica datado de 1902.

                                           

  A nível de cinema, Portugal vê o lançamento de novos filmes de João Pedro Rodrigues (A Última Vez Que Vi Macau), Manoel de Oliveira (que adaptou Gebo e a Sombra de Raúl Brandão) e Miguel Gomes (Tabu confirmado em Berlim), entre tantos outros. Manoel de Oliveira foi um dos cineastas convidados para filmar Guimarães no âmbito dos projectos da capital europeia da cultura. Outros nomes confirmados são os de Pedro Costa, Victor Erice (que continua escondido para as longas-metragens desde o fabuloso El Sol del Membrillo) ou o de Jean-Luc (Cinema(?)) Godard (aquele que diz que o comunismo existiu uma vez, quando a Húngria jogou futebol em equipa para derrotar os individualistas ingleses). Inspirados numa curta-metragem soberba deste último acabamos o primeiro post com as nossas saudosas boas-vindas (a todos, não a Sarajevo, Bósnia onde o franco-suíço decidiu filmar para Guimarães).

                                        


                                                                                                   Miguel Ferreira e Raquel Pimpão.