domingo, 22 de janeiro de 2012

O Sonho da Luz, O Sol do Marmeleiro

  Victor Erice é um cineasta espanhol nascido em 1940. Estudou direito, ciências políticas e economia. Sem esses estudos teria sido difícil manter uma vida estável durante 70 anos. Apesar de ter feito crítica de cinema e de ter estudado o assunto realizou apenas 3 longas-metragens na sua longa carreira. Se me perguntassem diria que são três das maiores obras-primas do cinema ibérico.
 

    Espiritu de la Colmena e El Sur são dois filmes pessoais, contemplativos e profundamente emocionais a cada instante. Marcantes pela forma como são filmados e pela cor da sua fotografia, foram trabalhos que deram trabalhos a Erice. O primeiro, que passou na censura sem ser notado, acabou por quase boicotar uma carreira que se adivinhava produtiva e brilhante. Francisco Franco, que se podia ter deixado levar por uma tão bela peça de cinema, preferiu dizer-lhe Não (João César Monteiro disse o mesmo ao público português no fim da Branca de Neve, e Portugal também quase lhe boicotou a obra). El Sur e os seus problemas de financiamento resultaram em dois terços de um livro filmado. Erice com a sua capacidade altamente entusiasmante, conseguiu fazer de um filme incompleto um filme do mais completo possível.
 

    1973, 1983, 1992: El Sol del Membrillo, acaba por ser, na minha humilde cinéfila opinião o maior feito de Erice. Chamado de inclassificável, mistura a ficção ao documentário e transpõe na tela o verdadeiro processo criativo de um quadro do pintor espanhol Antonio López García. A história passa-se em Madrid, 1990. García plantou, há anos, no seu quintal, um marmeleiro. Agora decide pintá-lo, quando os marmelos começam a ficar maduros. Mais contemplativo que nunca, é um filme que faria um óptimo dueto com Ou Git Votre Sourire Enfoui ou Ne Change Rien de Pedro Costa. Tal como os filmes do mestre português, El Sol é do mais duro possível e, posso afirmar, do mais recompensador.


    Depois de umas quantas curtas, o basco realizou uma nova, para Guimarães, desde ontem capital europeia da cultura. Há uns meses, quando andava a fazer casting, pediu uma mulher, com mais de 70 anos, que já tivesse trabalhado na indústria têxtil e que falasse polaco. Capta a atenção.

                                                                Miguel Ferreira

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